quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Ohh, get it!


Eu tenho inveja. Tenho inveja de ser louca e de justificar tudo o que falo e faço com a minha doença. Viver a esmo. Surtar até o ultimo limite e em algum momento ser intoxicada pela ilusão. Rir dos normais. Debochar da lógica, criar conceitos e achar que o mundo gira ao meu redor. Ter filhos e largá-los no mundo, fazer as pessoas sofrerem enquanto eu acho que elas estão tentando me matar.

Tenho inveja da psicose. De me aproveitar do delírio e jogar na cara das pessoas as palavras mais rudes, as mágoas mais antigas e profundas, acreditar em Deus. Tenho inveja dos que não parecem ter coração, porque o pensamento toma conta de tudo. Tenho inveja dos que não aceitam carinho por medo de levar um soco depois. Eu me afundo, eu observo. Eu não entendo. Sou obcecada pelas coisas que não entendo e que me afetam.

Encontrar a cura para a normalidade com o que nunca tem fim. Nunca cessa, ao contrário. Só piora. Cada vez mais. Viver de mundos imaginários enquanto a realidade implora para ser vivida. Não notar a presença da realidade e mesmo assim me sentir bem. Uma droga alucinógena injetada no dna que dura uma vida inteira, quem nunca quis isso?

E eu procuro ser infectada a todo o momento. Estou nos 90% das possibilidades genéticas e ambientais. Eu chego lá.

Uma hora vai.

                                                              "Pedi pra mãe – me interna, to infeliz pra caralho." 
                                                                                                                                         Caio F.


Indeterminada.


Estou indeterminada e isso me confunde. Não confunde os outros porque a aparência, tirando a parte do cabelo, é sempre a mesma. Confundo os próximos com bipolarismos durante o dia, e agora os ansiolíticos são minhas drogas diárias esticadas no criado mudo que apagam meus pensamentos por algumas horas e é só, depois que acordo não sei quem sou.

Quero saber mais, mas saber de mim é uma disciplina optativa e nesse ano parece não haver mais tempo pra nada. Só há obrigatórias e obrigações imprevisíveis. Algumas até eternas. Despertadores, choro, remédios e confusão. Não há tempo pra mais nada e reclamar é coisa que faço com a boca que ultimamente não anda muito ocupada. Questionar é o que faço enquanto o telhado se apaga em questão de minutos.

Procuro metáforas para não me expor. Desaprendi a ser sincera. Coisa difícil arrancar verdades assim, de dentro de mim, como se não fosse doer nem um pouquinho. A armadura é leve, mas está presa. Faz-me ágil e ao mesmo tempo dissimulada. Ninguém nota, ninguém vê.

O que incomoda mais não é o fato de outros enxergarem ou não, mas sim o fato de eu enxergar e não dar à mínima (porque se importar e não fazer nada a respeito dá meio que na mesma). Acho que não me amo mais por amar demais aos outros.

O espelho que outrora mostrava duas, agora não mostra mais nada, só uma pintura de Picasso que ainda não consegui interpretar. Logo eu, que me gabava humildemente de autoconhecimento e poder de observação. Quantas tolices, desalices...

Tudo agora é reflexo e instinto do que sobrou de humano em mim. O amor próprio que na minha vida sempre veio à conta gotas chegou ao final do frasco, que lacrado, arremessei contra a parede e lambi os restos entre os cacos de vidro.

Agora tenho uma língua machucada que adormece lentamente enquanto me obrigo o privilégio do sono, que é o que restou do cuidado que tenho por mim.

Sou bicho do mato ou um lobisomem juvenil? Sou anjo, sou mulher? Quem sou? Ninguém mais me explica, eu não me explico. Eu não sou.

Só. Estou.
Indeterminada.

What's up?


Uma irritação constante disfarçada com um sorriso falso, de plástico bolha que todos adoram apertar. Uma vontade de jogar tudo pro alto misturada com a sensação, obrigação ou ainda por saber de mim, dos meus limites, que posso, sim, segurar e carregar mais um pouco tanta coisa ao mesmo tempo. Até agora não escutei nada caindo pelo caminho, mas os nervos das minhas pernas tremem involuntariamente por conta do peso além da medida. Não é culpa de ninguém e de nada, e ao mesmo tempo é. Culpa minha.

Uma sucessão de fatos absurdos, de promessas mal cumpridas, de se ocupar de tudo e de nada ao mesmo tempo. Cansei, mas ainda aguento mais um pouco, e me sinto mal por pensar assim almejando rede e recompensas. Um dia em que tudo acabará.

Não sei mais o que fazer de mim além de me doar mais que o necessário até que não sobre uma gota de água naquela garrafa emprestada a outrem em meio ao deserto. Estou cheia e ao mesmo tempo vazia. Humor que varia em vários momentos do dia, e como sempre, descontando frustrações na pessoa errada. Ao menos o papel não sente, sinto que ele quer ser ferido e não se importa tanto com a emoção do contato, desde que seja intensa e verdadeira. Ele me entende, e a gente se dá bem.

Quando dá tempo, quando tenho cabeça, quando tenho hora.

Não saber dizer não é um dos meus priores defeitos, ele me critica e às vezes nem quer ser usado, mas ainda vejo esse defeito como virtude e não sei por quê. Dizer sim pra tudo e pra todas as coisas não é bom, mas nem sempre há escolha. O não machuca os outros, machucam as coisas e eu não quero ferir ninguém, mesmo que sofra escondida no fim do dia, num canto do quarto enquanto ninguém mais escuta. Sofrer em silêncio, sim, é o que sei fazer de melhor. Explodir cacos da minha dor nas outras pessoas é um risco. O suor pelo caminho, que marca minhas pegadas, seca com o tempo. Daí não sei mais voltar. Parei de olhar pra trás.

O que foi pego foi pego deve ser devolvido intacto porque não é meu. Na maioria das vezes é devolvido com costuras e remendas que foram piedosamente requisitadas apenas com o olhar. Não sei mais saber de mim, até sei o que sinto, mas pareço não me importar. Minhas coisas e sentimentos estão na gaveta há tanto tempo que nem sei se daria conta de abrir de novo. Tenho medo da bagunça, tenho medo do caos. Tenho medo do choro alheio, tenho fome de paz.

Não sei mais de mim.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Devaneios ao vento.



A arte
suprime a indestrutível
vontade
de possuir o outro por mera
necessidade.
A vida
me traz  sua presença
sadia
enquanto vivo essa felicidade
clandestina.