Eu
tenho inveja. Tenho inveja de ser louca e de justificar tudo o que falo e faço
com a minha doença. Viver a esmo. Surtar até o ultimo limite e em algum momento
ser intoxicada pela ilusão. Rir dos normais. Debochar da lógica, criar
conceitos e achar que o mundo gira ao meu redor. Ter filhos e largá-los no
mundo, fazer as pessoas sofrerem enquanto eu acho que elas estão tentando me
matar.
Tenho
inveja da psicose. De me aproveitar do delírio e jogar na cara das pessoas as
palavras mais rudes, as mágoas mais antigas e profundas, acreditar em Deus.
Tenho inveja dos que não parecem ter coração, porque o pensamento toma conta de
tudo. Tenho inveja dos que não aceitam carinho por medo de levar um soco
depois. Eu me afundo, eu observo. Eu não entendo. Sou obcecada pelas coisas que
não entendo e que me afetam.
Encontrar
a cura para a normalidade com o que nunca tem fim. Nunca cessa, ao contrário.
Só piora. Cada vez mais. Viver de mundos imaginários enquanto a realidade
implora para ser vivida. Não notar a presença da realidade e mesmo assim me
sentir bem. Uma droga alucinógena injetada no dna que dura uma vida inteira,
quem nunca quis isso?
E eu
procuro ser infectada a todo o momento. Estou nos 90% das possibilidades
genéticas e ambientais. Eu chego lá.
Uma hora vai.
"Pedi pra mãe – me
interna, to infeliz pra caralho."
Caio F.