quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Devaneios Chuviscados


A chuva com as suas passadas apressadas de gotas tentando molhar o fundo da alma. O som da chuva é uma das mais lindas músicas que se podem ouvir as pessoas suaves. Tranqüilas e atentas a qualquer gotejada da água sobre o teto, sobre a folha e sobre o corpo. Ainda não são as de março, mas essas águas vêem dizer o que nos espera no próximo mês. É uma das épocas que mais aprecio, tirando a primavera. Certo que nasci num dia de chuva e talvez por isso eu renasça cada vez que me molho nas lágrimas do céu. O choverando vai e são os dias em que me sinto mais limpa. Chuveiro nenhum no mundo pode dar essa sensação de limpeza e vida que a chuva tocando o corpo de um homem sensível é capaz. Nos finais de tarde sempre nos atacam voltando do trabalho, de um dia cansativo e quente. De um dia estressante ou lento, as gotas trazem a energia que precisamos para continuar um novo dia. Não quero falar do arco-íris que surge depois quando se há sol. É um espetáculo a parte. Chuva lembra a vida, seu renascimento, mas também lembra morte. Um ciclo que nunca se dissipa e que nunca erra. O nosso também é. A idéia de que estamos aqui de passagem, usando uma roupa, uma casca. Esse mundo não é nosso. Também é da chuva, pois ela só passa por aqui de tempos em tempos. Quando é necessário. E sim, estamos aqui porque é necessária nossa presença. Por mais insignificante que alguém se considere somos úteis em algum propósito que é muito importante. Para além de escutar a chuva numa tarde de quarta-feira. Muitas vezes não nos damos conta de quão importante é nosso papel. E não estou falando do papel na sociedade, mas um papel na vida. Não aquele que se interpreta e se joga pelas gavetas de scripts velhos e papéis de jornais de apresentações passadas. Um papel muito mais importante que só cada um de nós há de saber ou não. Quando se sabe se passa pela vida, pela terra, pela matéria com mais tranqüilidade e sem tantas reclamações. A chuva de hoje não veio só refrescar o calor, ou molhar sua bolsa mais linda, e seu cabelo mais bem arrumado. Veio avisar, e sempre vem, sempre avisa que há coisas que nunca mudam. Os ciclos nunca passam.  O que veio da água continua sendo água em estágios diferentes da matéria. O que é pó volta a ser pó, e no meio do caminho, no meio do seu ciclo seguro lhe avisa que há muito mais por vir. Somos tão jovens reclamando de tudo, sejam suas causas raras, doces ou fúteis, ainda não são as verdadeiras. Há que se descobrir, por dentro ou por fora por que estamos realmente aqui. Agora.

Inutilidades Inesquecíveis


Ela não se esquece do que ele disse por telefone há um ano e nove meses. Ela era incapaz de acreditar em tal coisa, mas sempre confiou na sorte, no amor que sentia. No que realmente valia à pena se preocupar. Ela sempre foi assim, detalhista, e não se importe em checar as datas, pois ela esteve sempre correta e sempre soube de tudo que acontecia ao seu redor. O telefonema era pra acabar com a suspeita, mas não era nada grave. Sempre admirou pessoas adultas se comportando como adultas. Embora em alguns momentos deixasse sua criança interior baixar e fazer rebuliço pela sala e pelos caminhos. Mas claro tudo por conta da ocasião. E tenha certeza, com coisa séria não se brinca nem se faz de criança pra se passar de desentendido. Atenta a tudo. Até ao que poderia jamais se preocupar. Ela não se esquece do que leu há um ano e seis meses. Coisa estranha essa da leitura. O que era pra interpretar foi superhiperinterpretado. Mas nada além da conta. Da sua conta. Ela sempre soube o que havia por debaixo das palavras e principalmente das intenções de quem as escrevia. Às vezes ela mesma fazia isso. Mas vinda dos outros era um desafio que ela tinha que ganhar. Ela se lembra das exatas palavras. Poucas palavras e poucas linhas abrem abismos intransponíveis. Nem era tão importante o que leu, nem o que ouviu faz hoje tanta diferença. Mas há exato um ano e sete meses ela teve certeza do que realmente existia. E continua tendo. A primeira impressão é a que fica. Fica o telefonema, as palavras e a impressão. O que houve, o que ouviu, o que leu foi se juntando aos poucos e às novas impressões ela pensou que não poderia ficar pior e ficou. A cada impressão suas impressões eram cada vez piores e piores. Mas está segura, sempre foi. Aquele orgulho, que não é besta, mas que traz consigo transparece hoje uma mulher sensata, porém louca. Distraída, mas do tipo que não esquece nada. Só quando quer. Por hora ela deixa essas datas, palavras, impressões e telefonemas que não usa mais guardadas num texto qualquer. Como uma roupa que não lhe serve mais esquecida no guarda-roupa, já que com certeza ninguém seria louco de usar ou costurar. Não servem pra nada.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sem sono, sem cigarros, sem internet e sem rivotril.

Não necessariamente nesta ordem e sim ao mesmo tempo. Uma injustiça do acaso misturada a minha preguiça de não ter provido ao menos uma das coisas anteriormente. A preguiça às vezes acaba comigo, toma várias horas do meu dia e quando eu vejo já não há mais tempo de consertar tudo pra ter uma noite agradável. Uma noite digna. Das insônias da vida eu não reclamo tanto, mas essa foi a pior de todas, ao menos esse ano. Numa tarde estava eu a retirar o último cigarro do maço e a pensar, preciso comprar mais. Deito e pego no sono, acordo e já são mais de dez horas da noite, o banco está fechado. Corro para uma loja de conveniência mais próxima onde tem um caixa eletrônico e descubro que ele foi retirado de lá. Volto pra casa e penso se estivesse na casa da minha mãe poderia pedir pra ela ou para o irmão, ou decerto teria um pacote de fumo junto da palha ao lado do cinzeiro em cima da mesa que poderia saciar minha abstinência pela noite. Mas não. E achei também um pouco tarde em um domingo pra uma visita desesperada atrás de nicotina. Então, pensei. É só por uma noite. Mal sabia eu o que aquela interminável noite de insônia me provocaria. Sem cigarro já imaginei que demoraria um pouco para dormir. Mas a mente prega peças. Confesso que se o maço estivesse cheio eu dormiria sem tanto sacrifício. Mas o fato de não ter me fez andar pela casa toda feito uma louca viciada, procurando um cigarro ou metade, ou pior, um pedaço mínimo que fosse de qualquer coisa que me fizesse acalmar essa louca necessidade.
A busca não deu muito certo, e lá pelas tantas que nem eram tantas deitei. Pronto. Cadê o sono? Poderia ter ido buscar cigarro, mas não tem nada aberto e tanto eu como ele estamos sem dinheiro para tanto. Daí vem o detalhe sórdido da noite. Porque toda noite de insônia tem um detalhe sórdido e olha, eu tive o meu. Espasmos. Aleatoriamente como soluços que te irritam, mas soluços melhoram com água ou com qualquer outra receita que a sua avó ensinou. No meu caso, era lá, Ian Curtis tentando dormir, com abstinência a flor da pele. Não, eu não podia cantar ouvir música, ler, porque qualquer uma das coisas acima faria barulho ou acordaria alguém do meu lado que é sensível a lâmpadas florescentes. A esta altura liguei o PC, enfim, vamos lá, quem está acordado a essas horas? E pasmem!O título já lhe deu a dica, mas o meu TIM não funcionou e me deixou na mão mais uma madrugada infame. Ok. Vamos ver o que dá pra fazer aqui nesse pczinho de merda, porque tudo agora era de merda, a minha irritação chegava a tal ponto extremo que nem a quantidade de merda, sim, de merda que tenho no PC foi capaz de me distrair por algumas horas. Eu quero um cigarro! Eu quero um cigarro! Eu quero um cigarro! Eu só preciso da porra de um cigarro! Assim a voz repetia e martelava na minha cabeça. Tudo martelava e nessa de martelar eu me lembrei do relógio. Não, não olhe pra ele querida, não se estresse além da conta. Você vai surtar. Você vai surtar. Eu vou surtar. Olhei no despertador que não era pra mim – sim, poderia ficar pior se eu tivesse que ir trabalhar, mas no fim das contas isso não importava mais, o que mais importava eu não tinha e não ter era o que importa – e eram 2,35 da manhã. Não sei se nessa trágica experiência eu lhes contei o não mais importante, mas crucial acontecimento que terminou a fazer da minha noite de insônia o inferninho da viciada. Sim, vou lhes contar. O horário de verão que tanto odeio havia terminado, e foram acrescentados sessenta minutos ao dia. Ai você me pergunta: que diferença faz? Daí eu retruco histérica, porque a estas alturas e horários é uma histeria imaginária, portanto não usarei o caps look, agora sim: Que diferença faz? Uma hora a mais não faz diferença. Não faz diferença na sua baladinha que pode ir até mais tarde, o som alto ligado na noite de sábado, chegar atrasado na segunda pro trabalho, se bem que a minha desculpa poderia ter sido outra, mas meu querido, numa noite de insônia, sem cigarro, com espasmos musculares, sem rivotril e sem internet faz toda a diferença. As horas passam mais lentas. Cheguei até a pensar antes em esperar o banco abrir, as seis, alguns cigarros soltos no bar mais próximo, mas os bares não abrem de segunda feira putaqueopariu, e o relógio corre lento com seu tique-taque torturante e é mais torturante ainda ver o mundo todo silencioso e imerso nos estágios de sono mais profundos, em outras dimensões e você ali cultivando a matéria de ser um viciado em nicotina, com problemas de insônia e outros mais sem poder muito menos conseguir pregar os olhos por poucos segundos. Uma cochilada que fosse não faria mal. Acho que é castigo. Ando muito magra e preciso engordar. Então não durmo bem, pois uma boa noite de sono emagrece. É o que dizem alguns cientistas barrigudinhos. Abro a geladeira e janto mais umas três vezes comida gelada, pois não posso fazer barulho. Como tudo o que é possível comer. A garrafa de café está cheia e o conteúdo está quente ainda, mas nem me atrevo, pois é capaz dessa vez o café fazer realmente efeito, pois hoje eu estou com muita sorte das coisas darem muito certo. Bebo muito leite com colheradas gigantes de Nescau e encontro dentro do armário uma lata de leite ninho que levo pro quarto com uma colher pra tentar ser um pouquinho feliz.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Mulherzinha Feelings

Hoje fui às compras. Funcionou. Não que nunca funcione, sempre funciona. Qualquer mulher sabe disso, ainda mais se for mulherzinha. Não, e não precisa entrar com aquela neura de que toda mulherzinha é nojenta e só pensa em futilidades, na verdade todas nós temos isso. Um dia esse sentimento surge mais aguçado, impossível não reter. É quando você se torna uma mulher de verdade. Preocupa-se com a roupa, com a aparência, saí e compra sapatos, maquiagem, cremes, perfumes e volta pra casa feliz, sim, feliz! Outra que é mais pertinente, a mulher está toda desanimada e vai ao salão e muda tudo, o que um salão é capaz de fazer com o humor de uma mulher homem nenhum sabe, o que liquidações das mais variadas coisas também fazem ninguém é capaz de entender. Não é preciso nenhuma pesquisa científica. Somos mulheres e ponto. Mas nós nos entendemos. São comuns no meio de conversas entre casais ou amigos as mulheres se virarem umas pras outras e perguntarem da make, do sapato, do vestido, dos brincos enfim, daí os homens fazem aquela cara conhecida, poker face! Eles não entendem. A exceção são os amigos homens gays, daí você pode ficar tranqüila que ele até lhe dá dicas ótimas, fiquem atentas, alguns tem muito bom gosto.
Há um tempo não me preocupava com essas coisas, saía pelas ruas de tênis e camiseta feito um moleque, quando comecei a me preocupar só um tiquinho achava que um lápis no olho e um batom faziam toda a diferença, quando me interessava um pouco mais pela coisa saí e comprei maquiagem – um pó, um batom, um rímel, e um lápis – e hoje eu sei que olhando pra minha caixa cheia de mimos de mulherzinha percebo que maquiagem não é só isso. Eu olhava para as garotas que se emperiquitavam todas com suas milhões de bijuterias, acessórios e um quilo de maquiagem e sentia vontade de vomitar, mas acho que agora é a minha vez de fazer outras meninas que ainda não se sentiram mulheres sentirem nojo de mim. É a minha vez. Uma hora você cresce e descobre o que é ser mulher de verdade. Mas como toda regra tem exceção ainda sinto um nojinho, sim, por aquelas pessoas que somente se preocupam com a aparência. Não, eu não me preocupo só com isso, há outras questões importantes que perambulam minha mente enquanto faço a maquiagem antes de sair, e várias delas não é o sapato que vou usar, embora em sempre tenha muitas dúvidas também quanto a isso.
O fato é que hoje me considero uma pessoa assim: eu posso sair com você com um quilo de maquiagem no rosto que tampa até o piercing do meu nariz e as pintas da minha face, mas se você topar uma conversa profunda, filosófica, sobre a vida, sobre qualquer coisa vamos conversar durante horas, porque não sou uma bonequinha de luxo, tenho cérebro e sei sobre muitas coisas da vida. Só pra constar que o ‘bonequinha de luxo’ aqui não faz referência a lindeza da Audrey, é só um título tosco que brasileiros deram por falta de um melhor, não sei por que não usaram o original.
Mas voltando ao assunto de mulherzinha pra acabar logo, porque ficar falando tempo demais sobre isso me dá um peso na consciência e eu tenho cositas mais a fazer. Meu namorado me pegou esses dias olhando sapatos na internet e fez cara de espanto, mas eu disse, é um louboutin! Ele continuou não entendendo nada, me reprimindo com um olhar que eu logo tranqüilizei, não, não vou comprar uma imitação de sapato por 300 reais no mercado livre, eu compraria uma meia-dúzia com esse dinheiro! Enquanto estava fazendo compras, porque sou do tipo que separa certinho o dinheiro das loucuras gastas, achei um vestido lindo de bolinhas por oitenta reais, porque é claro vi no corpo de uma amiga e quis ter um parecido, não igual. Achei, era lindo, só que eram oitenta reais. Sou a tipo de mulherzinha pão duro, já deu pra perceber. Ok, como sempre disse que voltava depois e fui num brechozinho e transformei esses oitenta em dois vestidos, um macacão e uma saia longa, e fiquei feliz por ter feito milagre, e pensei em passar em outras lojas pra fazer a mesma mágica. Entro, pesquiso, falo que volto depois, às vezes eu volto, às vezes não porque achei coisa melhor. E pra terminar e falar que eu não sou mulherzinha fútil, passei na livraria e comprei três livros, porque adoro liquidações de livrarias e sebos em geral.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Ela.

Ela sabe de tudo. Ela sabe de todos. Ela sabe como enganar, como iludir, como te deixar com aquela cara de poker face, e se não souber o que é isso ela provavelmente vai te explicar. Ela não sabe de nada. Ela tem cara, mas quem não tem. Ela usa máscaras, mas quem não usa. E quando deixa cair ninguém percebe. É sempre a mesma. Ela com as suas máscaras tirando uma após outra feito bonequinhas russas. Ela não é russa muito menos boneca. Tamanho não tem. Deve ter coração, mas eu ainda não cheguei lá. É sempre ela. Quem? Quem é ela? Nem ela sabe. Nem eu sei. Só estou escrevendo porque é confuso. É tão complicado e é tão impossível que você deixa pra lá. Esquece larga e some. Como aquele seu fone de ouvido que está guardado numa gaveta todo enrolado e você simplesmente desiste de desenrolar porque a vontade de ouvir música já passou. Quando você desenrola um dos lados não funciona. A raiva não deixa. Não deixa usar, não deixa ver, não deixa se envolver muito menos se interessar por uma coisa tão absurda. Ela não é misteriosa, se faz, mas não é. Pode ser pra mim, eu que não entendi ainda. Ela não é nada que se faz com que ela seja ela não é nem esse texto maluco que estou escrevendo, ela não é muito menos quem está o digitando. Não. Não sou eu. É ela. E você sabe quem é. Provavelmente. Porque ela te conhece também, e se você diz que faz qualquer coisa maluca da vida ela adora, ela curte demais. Mas não se preocupe. Coisa inofensiva é quem não sabe quem é. Andarilho pelo carpete com suas sandálias azuis e amarelas e nem se importa com o lixo da rua que deixa pelo caminho. É assim que são. É assim que é. Há pessoas que lambem esse chão. Há pessoas que vomitam nele. Como entender? Tem gente que gosta. Tem gente que curte. Tem gente que adora. Tem gente que odeia. Onde entra o eu ou ela nesse meio tempo do tem gente? Eu não odeio. Ela não permite ser odiada, ou amada, ou adorada, pois as pessoas só sentem isso por ela porque a personificam. Tá, então, narradora descritiva estranha e confusa: de quem ou do quê estás falando? Personifiquei esse ela até agora pela incapacidade de entender. Até um Ela eu dei pra parecer que é gente, se parece muito. Porque posso ser eu e posso ser ela e assim fica mais fácil de entender. Gosto de complicar. Não suporto a idéia de que alguém me entenda. Mas quero? Talvez. Não cheguei a lugar algum. Nem ela chegará. Mas pode ser. Olha,  se parece muito. Fala a voz da verdade. Não. Não é de verdade. Não sei nem se é. Devaneios, baby. Sou assim.

Se aproveitam da minha psicose...

Há quem viva bem com a insanidade. Não, não desta insanidade que você está pensando, daqueles cinco minutos que todo mundo tem, não é isso meu bem – loucura é outra coisa. Loucura, insanidade, neura, paranóia, o nome que você quiser dar, ou o nome que está no seu prontuário, tanto faz isso que diferencia alguém como eu de pessoas que se dizem ser assim quando querem usar umas expressões mais modernas e difíceis pra se descreverem no seu mundo bem normal de ser, porque deve também ser muito chato ser normal. Ser louca a todo o momento, 24 horas por dia te faz pensar em inimagináveis coisas, que os normais não saberiam, nem imaginariam experimentar, mas vou resumir em algumas linhas. No meu caso, uma louca letrada, vou procurar milhões de sentidos por trás, debaixo, entre, em cima das linhas ou entrelinhas. Nas expressões, adoro estudar e imaginar o quê quem está pensando, nos comentários e conversas, ah, tudo meu bem! Nunca queira enganar uma pessoa louca das suas verdadeiras intenções para com ela. E não pague de ator pra enganá-la, pois ela provavelmente sabe atuar bem melhor do que você. Não fique chateado por não conseguir entrar tão facilmente na sua mente ou vida, ela geralmente fica trancada numa caixa transparente e sensível, pra perceber tudo, mas tão forte quanto adamantium. Mas se você já está dentro da vida dela mesmo certifique-se de que é uma pessoa muito estimada, ou você pode estar apenas ali que ela não notará sua presença se ela não for perturbadora o suficiente. Mas se você realmente estiver na vida dessa pessoa ou realmente fizer questão disso – já vou avisando, não é para fracos – muito cuidado: na melhor das hipóteses pode dar certo, na pior delas você poderá se enforcar na própria corda. Loucos não se preocupam com tudo, só com o que é mais importante, ou pelo menos o mais importante no momento. Não estou falando de manias, elas fazem parte da vida de qualquer humano seja ele normal ou não, é claro que nós temos mais, mas isso não vem ao caso. Existe o lado bom. Sim, o lado das paranóias que você desconfia de qualquer um, até de uma mosca (e aqui é claro que eu coloquei uma mosca pra exemplificar o que passaria despercebido para alguns normais). E existe o lado ruim, as pessoas que se aproveitam da sua paranóia. É incrível que seres humanos possam ser assim, e quando alguém com mais experiência nesse quesito percebe, olha lá, deixa de ser uma mosca, e passa a ser um dragão rindo da sua cara. Muaahaahahahahaha. Ok. Deixe ele se divertir. Deixo ele cuspir e acender o meu cigarro amigavelmente. Minha amiga estes dias estava comentando comigo, olha, estou tomando um medicamento fortíssimo que me altera toda, mais que TPM – isso foi a deixa para “eu posso matar alguém e sair ilesa” – nossas trocas de olhares dizem tudo. Daí que eu pensei que na condição de esquizofrênica eu meio que às vezes poderia tirar proveito disso fazendo com as pessoas o que eu imagino com a minha mente tal como Carrie faria. Mais devagar...mais devagar... Mas é claro, não se preocupe. Isso são só paranóias.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Agora

Agora ela dança pela casa feito boba, ensaiando passos de uma dança que não foi e não será apresentada. Já está acostumada. É mais um script que decora e nunca diz, e mais um passo que se mata, se envolve, se mistura, se compõe e se dispersa no meio das coisas que não estão na sua mão. Não está ao alcance das palavras nem da sapatilha de ponta que dói tanto seus dedos que agora sente até um pouco de preguiça dessa dor. Deixa pra depois. Descalço posso sentir o chão. O meu peso sobre o chão. E talvez sentir de novo aquela sensação maravilhosa do vento tocando os pêlos do seu braço enquanto volta pra casa, enquanto na luta contra o solo tenta alcançar o movimento natural e mais perfeito, como os toques de luz que uma pessoa iluminada lhe ensinou a encontrar e fazer bom uso. O acaso não mata sua vontade de ser. Em qualquer coisa, em qualquer poesia, em qualquer palavra, ou sem palavra. Agora ela precisa de palavras, sim. Pois agora são palavras novas, assim como miragens novas que povoam sua mente tão dispersa em se encontrar. Coisa que chamam de repertório, coisa que cresce e se apossa da gente. Na verdade não era a intenção de mostrar. Na verdade dançar pra si mesmo é a melhor coisa que sabe fazer. Pra ela não existe coisa mais emocionante do que explorar os espaços de um teatro vazio. Escrever coisas que nunca publica. Se a intenção era sentir, porque sempre é o que a move, fez isso muito bem. Mergulhar nas coisas que lhe completam é o seu maior defeito e sua melhor virtude. Qualquer palavra, som ou coisa mais simples preenche o que ela sabe que já faz muito tempo não está mais vazio, mas finge o tempo todo o vazio que não sente mais só pra sentir mais e mais completa. Como o copo já cheio que derrama água por toda a toalha de mesa, que esbarra nas pessoas enquanto suga toda forma de preenchimento como goladas de um sedento em pleno deserto. Agora eu sei do vazio que Renato está cheio de sentir. Só que meu vazio está cheio de tanto querer me completar, a hora de dizer chega, a hora de dizer pare já é o suficiente. Não, menina, não abrace o mundo com seus braços pequenos em primeira posição, pois há coisas que não pode carregar,  coisas que podem cair. Embora eles estejam mais fortes e tenham se desdobrado feito um polvo desesperado e com fome, eles dançam no fundo do mar que você criou cheio de coisas necessárias. Pare. Respire. Enquanto puder carregar o peso de ser você no meio de tantas dúvidas e diversidades dance pra si só, com os olhos fechados, como se ninguém estivesse olhando. Aos poucos abra e perceba vagamente a realidade que te cerca, mas não olhe pra nada em especial, consegue abrir os olhos, olhar e não enxergar nada, ser distante? Sim, eu sei que consegue. Então vai lá e faça do jeito que sentir, do jeito que vier. Com recursos e formas que melhor se encaixarem e melhor expressarem o que tiver de ser. Uma hora você se entende. Uma hora saberá e conhecerá plenamente o que é. Enquanto isso só ouço a voz desesperada do Fredie dizendo “the show must go on” e uma chuva fina que cai enquanto eu esperava aquela que molhasse até o fundo da minha alma, pra ir pra rua e deixar que ela me queime propositalmente sem querer. Mas ela veio silenciosa e fina. Porque eu sempre espero mais das coisas.