sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Tudo bem não é Bom dia.


Se não quer saber se estou realmente bem, não pergunte. Não use uma palavra tão delicada apenas por uma convenção social. Apenas por uma educação que você finge que tem. Tudo bem não é bom dia. E sugiro que substitua uma pela outra se não tiver tempo ou interesse em ouvir a resposta. Outra coisa, não responda simplesmente “é assim mesmo” ou “vai passar” e saia batendo as canelas com a cabeça erguida em outra direção como se tivesse prestado um enorme serviço à sociedade. Não adianta. Faz você parecer mais artificial do que já é. Uma casca de noz vazia em meio ao mundo de horrores desabando sobre nós.
Sua insensibilidade me irrita tanto quanto sua forma ridícula de se mostrar humana, quando por dentro você é alguém tão sujo quanto eu. Sofrendo tanto quanto eu.
A diferença é que eu sou sincera. Não sei me importar com os outros socialmente. Quando eu me importo, eu me importo de verdade. Eu não sei mentir quando a resposta a sua pergunta se refere ao que eu estou sentindo. Nossos sentimentos são a única coisa humana que nós temos e que anda restando na sociedade, e alguns ainda insistem em artificializar.
Então, simplesmente, não fale comigo. Eu falo com você? Me deixe. Eu te importuno com perguntas falsas? Não finja se importar e não trate o fingimento como algo natural pois esse fingimento exige uma estrutura que você não tem, que eu não tenho.
E, afinal de contas.
Sentir e ser verdadeiro com os próprios sentimentos talvez seja a única coisa humana que reste dentro de nós.
Não a plastifique.


Hoje²


Hoje eu decidi ficar em casa ao invés de encarar o problema. Ao invés de encarar a cena onde não soube atuar. Sim, um erro: entreguei-me e me deixei levar. Sim, hoje eu tentei fugir dos meus problemas, mas eles me acompanharam até em casa e não me deixaram dormir.
Nunca fui todo esse poço de calmaria e passividade que você vê. O meu inferno é por dentro e eu não quero, nunca quis machucar ninguém. Não quero meus pedaços sobre a cabeça de ninguém.
Estou muito longe, eu sei, de ser uma vítima, e o alvo está longe de deixar de ser tratado como especial. O que eu falo não faz tanto sentido quanto a vergonha que senti e a solução está longe de ser uma prioridade.
Um misto de todas as sensações mais humilhantes ardeu do meu coração até a face, que caminhei até a porta e finalmente pude tirar o nariz de palhaço. Arrancar a máscara e ser quem eu realmente sou.
Sim, apenas da porta pra fora, pois por dentro sou uma máquina quebrada, mal valorizada e onde a manutenção costuma ser pouca diante de tanto uso. Diante de tanto desgaste.
Do saldo só tenho a vergonha que atingiu minha face, deu voltas no corpo todo e se alojou no coração. De onde nunca mais sairá com risco de eu deixar de ser humana.
Procurei soluções na minha biblioteca vasta de normas e esperanças. A poesia, que estava na caixa de primeiros socorros eu quis queimar, jogar na parede. Mas, como sempre, os pedaços dos quais me explodo sou obrigada a recolher todos e juntar. Fazer-me nova e retalhada para um novo dia.
Só que hoje não.
Imagino o dia em que deixarei meus pedaços grudados na parede e talvez na face de alguém, entre porta retratos e finalmente poderei sair tranqüila atravessando as portas e batendo sapatos de algodão.

Hoje


Hoje me resolvi. Permiti-me alguns luxos. Algumas alegrias. Sim, aquela risada engasgada no fundo da ideia quando tudo está desabando. O caos sobre nossas cabeças e um sorriso contido pela merda que foi esfregada na cara.
Hoje eu quero a alegria que se contêm nas faces de um velório. Do sorriso diante do soco bem dado na cara do desespero. De ser humana em momentos não privilegiados. Quando era criança, e disso ainda me lembro bem, desatava a rir depois de uma surra bem levada, depois que as lágrimas já secaram, o que me levava a apanhar e a sorrir cada vez mais. Pois era proibido rir. Era proibido sorrir.
Quem inventou que não se pode sorrir diante do desespero, do sofrimento e em meio a crises gerais? Nunca soube.
Hoje eu escolhi meu sentimento e quem manda nele sou eu. Chega dessa ideia de que sofrer é bonito, é poético e o caralho A4. Nem conseqüência nem nada. Não quero depressão. Nem pós, nem durante, nem depois. Se vier será esfregada como soco na parede chapiscada da vergonha. A dor é merda. É ferida. Não mexa. Só aponte e dê risada do que, certamente, irá flutuar.
Se isso é loucura, não sei. A gente escolhe ser louco? Também não sei. Resolvi acordar de bem comigo mesma. Só isso.
Não é filosofia barata, não é auto-ajuda. Sou eu cansada de me sentir vítima. Quero ter o controle, confiar e perder. E se tudo der errado ofereço a outra face com um sorriso amarelo de ponta a ponta.
Não é armadura nem máscara. É só eu tomando conta de mim.
Mais uma vez.