Se não quer saber se estou realmente
bem, não pergunte. Não use uma palavra tão delicada apenas por uma convenção
social. Apenas por uma educação que você finge que tem. Tudo bem não é bom dia.
E sugiro que substitua uma pela outra se não tiver tempo ou interesse em ouvir
a resposta. Outra coisa, não responda simplesmente “é assim mesmo” ou “vai
passar” e saia batendo as canelas com a cabeça erguida em outra direção como se
tivesse prestado um enorme serviço à sociedade. Não adianta. Faz você parecer
mais artificial do que já é. Uma casca de noz vazia em meio ao mundo de
horrores desabando sobre nós.
Sua insensibilidade me irrita tanto
quanto sua forma ridícula de se mostrar humana, quando por dentro você é alguém
tão sujo quanto eu. Sofrendo tanto quanto eu.
A diferença é que eu sou sincera. Não
sei me importar com os outros socialmente. Quando eu me importo, eu me importo
de verdade. Eu não sei mentir quando a resposta a sua pergunta se refere ao que
eu estou sentindo. Nossos sentimentos são a única coisa humana que nós temos e
que anda restando na sociedade, e alguns ainda insistem em artificializar.
Então, simplesmente, não fale comigo.
Eu falo com você? Me deixe. Eu te importuno com perguntas falsas? Não finja se
importar e não trate o fingimento como algo natural pois esse fingimento exige
uma estrutura que você não tem, que eu não tenho.
E, afinal de contas.
Sentir e ser verdadeiro com os
próprios sentimentos talvez seja a única coisa humana que reste dentro de nós.
Não a plastifique.