Fico querendo te encontrar para conversarmos durante horas, perguntar como foi seu dia e reclamarmos um de cada vez sobre o seu próprio trabalho, ouvir suas piadas sem graça e rir de você quando me diz que não tenho senso de humor. A semana foi exaustiva e estressante, sim, mas a única coisa que desejo realmente fazer quando você chega é te abraçar e não te largar mais. E depois de tantos anos, eu tão egoísta e tão cheia de tantas palavras reclamo, às vezes, da nossa falta de assunto. Daí então, percebo que não temos mais aquela ânsia dos casais iniciantes, pelo contrário, temos a calma e a serenidade de quem acha que já sabe demais um do outro e sempre acaba descobrindo algo mais através do silêncio. Somos o casal daquela mesa no canto que não se falam mais apenas porque não precisam mais de palavras. Aqueles que já gastaram demais as tantas e tantas palavras de amor, mas que ainda dizem um pro outro eu te amo todos os dias tão intensamente quanto se pede perdão. E que também por algumas horas em um dia qualquer se enchem de insultos apenas para não se esquecerem de que ainda são humanos e diferentes.
“Que o teu silêncio me fale cada vez mais” foram as palavras do poeta enquanto caminhava em direção a sua metade. Não deve ter sido bem assim, mas é como eu me imagino recitando o poema com uma imaginação adolescente, feito uma garota bucólica farta de romances janeaustinos. E eu quero cada vez mais disso, embora o silêncio à dois me deixe constrangida e por vezes, completamente nua. Quero aprender cada vez mais sua língua e entender, mesmo que pela metade – porque sou metade – as entrelinhas de sua expressão. O que há entre as linhas do seu corpo já não é mais segredo, por isso gosto quando estou longe de você, de te imaginar sempre vestido pra tentar fingir um esquecimento de um território não mapeado e fazer de cada encontro e de cada toque uma longa e preciosa descoberta.
Hastear bandeira nuca foi preciso embora como animais não tenhamos evoluído tanto, carregando em cada um o cheiro do outro, e principalmente a lembrança, que nada apaga. Ou como o artista que admira sua obra e a reconhece em qualquer lugar sem a tão necessária assinatura. Eu te reconheço, tu me reconheces, e isso é tudo. A vela que carrega nossa chama parece ser tão antiga quanto o sol, pois a cada dia se torna mais quente e furiosa. Consigo imaginar também nosso amor como aquela cena de um filme romântico – porque sou romântica mesmo dizendo que não – onde um navio fervilha num vapor excitante, ardentemente flamejante, apenas para adiar o impacto do gelo. E no fim da milésima vez que assisto ao seu lado eu teimo em dizer, sim, eu teimo, ninguém afunda o nosso amor. E não há gelo que me provará o contrário.